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Sobre Presépios Napolitanos

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Para entender o Presépio Napolitano, arte desenvolvida entre 1600 e 1800, é preciso compreender o ambiente artístico daquela cidade, então capital do Reino das Duas Sicílias, governada pela dinastia espanhola de Bourbon. Na imagem o famoso presépio da Reggia di Caserta, a colossal residência campestre dos reis de Nápoles construída pelo arquiteto Vanvitelli.

Paixão do rei Carlo de Bourbon e da rainha consorte Maria Amália que, pessoalmente, bordava os trajes da Virgem Maria e dos demais personagens do presépio. Ambos legaram esta paixão ao príncipe Ferdinando, que seria esclarecido rei iluminista.

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À sombra do gênio de grandes pintores,Da Vinci, Rafael, Michelangelo e Caravaggio, o Reino Napolitano via nascer a fama de Luca Giordano, com seus afrescos triunfais na igreja barroca da Certosa di San Martino, mosteiro com proteção real numa colina debruçada sobre a cidade buliçosa.

Os pintores barrocos, Francesco Solimena e Francesco De Mura, e ainda Corrado Giaquinto, Gaspare Traversi, Aniello Falcone, Lorenzo De Caro, deslumbravam a corte partenopéia , chamando a atenção da Europa.

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Numa Nápoles então efervescente e moderna, porto mediterrâneo riquíssimo, quando se declamavam as rimas de Metastasio, em salões embalados pelas músicas de Scarlatti, Piasiello e Cimarosa, surgiu este hábito caprichoso que fascinou viajantes de toda a Europa,empolgou a realeza,suscitou a devoção popular: o Presépio.

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O historiador de arte Italiana, Raffaelo Causa, já superintendente do Museu de Capodimonte assim resumiu:

A celebração do ciclo do Natal com o Presépio, mais que dar significado de recorrência aos seus artífices apaixonados,durava o ano todo. Havia os “iniciados”, os “devotos” que dirigiam a construção dos presépios, escolhiam cenários místicos, mitológicos, clássicos, criando um libreto ideal para a Divina Encarnação, um microcosmo gozoso, numa espécie de Belém mítica.

Cena evangélica enriquecida por memórias do latifúndio feudal, das novas modas, das curiosidades do Oriente,das “turqueries”,das “chinoiserias”, em cortejos de adoração, onde se misturavam reis e mendigos, ciganos e tipos populares, animais exóticos e domésticos.

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Nápoles, a cidade que hospeda o mais antigo teatro lírico da Europa, onde a tradição musical é arraigada e onipresente, faz do Presépio uma grande ópera sacra, materializada em terracota, em concorridas cenas, onde brilham tipos de taverna, dançarinos de tarantella, nobres, burgueses, filósofos iluminados,músicos ,tipos populares, além dos reis magos, pastores e anjos do Evangelho de São Lucas.

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No centro histórico de Nápoles existe ainda hoje a famosa rua de San Gregório Armeno onde, há mais de 300 anos, estão estabelecidos os artesãos das figurinhas e adereços de presépios.

Dali é o nosso presépio, que Rafael Greca e e eu montamos a cada ano, na chácara São Rafael das Laranjeiras (foto).

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De Nápoles também o grande Presépio Napolitano do Ottocento do conde Ciccilo Mattarazzo que se conserva no Museu de Arte Sacra do Convento da Luz, em São Paulo, do qual algumas imagens também ilustram este post. 13

Podem ser apreciados presépios napolitanos, com terracotas de escultores ilustres, no Metropolitam Museum de NY, no Palácio napolitano da Principessa Leonetti – mãe de Bubi Leonetti e sogra de Graziella Matarazzo, noticiáveis e amigos nossos de SP, e no Museu dos Presépios da Certosa de San Martino, em Nápoles.


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